As atividades militares em curso no Mar Vermelho estão causando impactos significativos no transporte de cargas, gerando aumento nos custos e emissões globais de gases de efeito estufa, de acordo com uma análise realizada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A situação, que especialistas descrevem como “dramática” para os custos de envio, reflete uma tendência de vulnerabilidade internacional a tensões geopolíticas e desafios climáticos.
A Unctad destacou que os efeitos da crise no Mar Vermelho estão sendo sentidos globalmente, resultando em atrasos no transporte de cargas e aumentos consideráveis nos custos. Um exemplo notável é o aumento semanal recorde de US$ 500 nas taxas diárias para embarcações provenientes da cidade chinesa de Shangai.
Os custos associados ao transporte de Shangai para a Europa mais do que triplicaram, enquanto a alta em relação à costa leste dos Estados Unidos foi de 162%, ilustrando o impacto generalizado da crise em várias regiões do mundo.
Desde novembro, muitas embarcações têm optado por rotas alternativas, passando pela África do Sul, e em 2024, mais de 300 navios porta-contentores, representando mais de 20% da capacidade global, adotaram essa medida. A redução semanal de contêineres na rota do Mar Vermelho atingiu 67% em comparação ao ano anterior, e o carregamento de contêineres nos últimos 12 meses diminuiu em impressionantes 77%. O trânsito de petroleiros reduziu em 80%, enquanto os transportadores de gás liquefeito cessaram completamente as operações devido ao receio de ataques.
O impacto da crise na navegação marítima reflete-se na necessidade de pagar por mais dias de viagem, no aumento diário do preço de trânsito e na obrigação dos navios de acelerar para compensar desvios, resultando em um maior consumo de combustível.
Além dos desafios logísticos, a Unctad expressa preocupação com os potenciais impactos econômicos, incluindo o aumento da inflação, interrupções prolongadas e atrasos nas entregas que podem gerar custos elevados em escala global. A alta nos preços de energia também levanta receios de um efeito cascata sobre os preços dos alimentos, agravando ainda mais a situação devido à redução da disponibilidade de grãos da Europa e da Rússia.
A Unctad destaca a monitorização contínua do impacto da crise nos países em desenvolvimento, ressaltando a tendência de vulnerabilidade global às tensões geopolíticas e aos desafios climáticos. Jan Hoffmann, chefe da Seção de Facilitação do Comércio da Unctad, destaca ainda a insegurança dos marinheiros, considerando que o transporte marítimo global corresponde a mais de 80% do comércio internacional.
Além da crise no Mar Vermelho, Hoffmann menciona outras interrupções nas rotas de navegação de grãos na Ucrânia e no Canal do Panamá, onde o nível baixo das águas reduziu o fluxo do comércio marítimo em 36% em relação ao ano anterior. O Canal de Suez, que desempenha um papel crucial no comércio global, também é citado, com entre 12% e 15% do comércio global passando por ele em 2023. O impacto contínuo dos ataques de combatentes houthis nas embarcações que transitam pela região torna a situação ainda mais preocupante para os custos de despacho.
Silvano Saldanha/JN LIBERTTI
Fonte: ONU