Em 2023, as principais redes varejistas brasileiras descartaram cerca de R$ 4,1 bilhões em frutas e hortaliças, de acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O volume alarmante de desperdício revela a gravidade de um problema que não só afeta o setor alimentício, mas também agrava as consequências das mudanças climáticas.

O desperdício de alimentos no Brasil é um problema crônico e pouco visível, apesar de o país ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo. A pesquisa da Embrapa e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2018 apontou que cerca de 9 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente por famílias brasileiras. Este volume seria suficiente para encher 750 mil caminhões compactadores de lixo com capacidade de 19 m³ cada. Se esses caminhões fossem enfileirados, formariam uma fila de 4.945 km, ultrapassando a distância do Oiapoque ao Chuí.

Por que números tão impressionantes não são amplamente percebidos? Parte da explicação está no fato de que o desperdício no elo final da cadeia produtiva não recebe a devida atenção. Seguimos uma lógica produtivista e linear, sem considerar o impacto ambiental do que jogamos fora, enquanto o cenário de emergência climática exige a adoção de sistemas alimentares mais circulares.

O problema do desperdício não se limita ao consumidor. Ineficiências ao longo da cadeia produtiva, desde o campo até o transporte e armazenamento, contribuem significativamente para as perdas. As falhas no planejamento da produção agrícola, a ausência de cadeias de frio adequadas e o manuseio incorreto de alimentos durante o transporte são fatores críticos.

Além do impacto financeiro, o desperdício de alimentos contribui de maneira significativa para a emissão de gases de efeito estufa. Dados da Agência de Proteção Ambiental dos EUA indicam que 58% das emissões fugitivas de metano provenientes de aterros sanitários são geradas pelo descarte de alimentos nas cidades. A Plataforma do Sistema de Alerta e Resposta ao Metano, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), sugere que as emissões globais de metano devem ser reduzidas entre 40% e 45% até 2030 para que seja possível limitar o aquecimento global a 1,5°C.

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Reduzir o desperdício de alimentos é essencial não apenas para garantir uma maior oferta de alimentos saudáveis, mas também para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A adoção de uma economia circular, em que alimentos sejam reaproveitados em diversas fases da cadeia produtiva, é uma solução viável e urgente. A emergência climática impõe a necessidade de uma abordagem mais integrada, envolvendo governo, sociedade e iniciativa privada.

Iniciativas como o Pacto Contra a Fome, bem como o envolvimento de organismos internacionais como o PNUMA e a FAO, demonstram o interesse crescente em atacar o problema de maneira sistêmica. Fortalecer a agricultura urbana, investir em tecnologias para melhor gestão de resíduos e incentivar o consumo consciente são passos essenciais para avançarmos nessa agenda.

Fonte: Embrapa

By rede33

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