O Brasil, como anfitrião da cúpula, tem assumido um papel ativo nas discussões, especialmente no que tange a desigualdade global. O país se apresenta como um defensor da reforma das estruturas econômicas globais, buscando uma maior equidade nas relações internacionais. Entretanto, essa proposta esbarra na resistência de países mais ricos, que têm suas próprias prioridades. O desafio de alinhar os interesses das nações em desenvolvimento com os das potências econômicas mais poderosas segue como um dos maiores obstáculos para uma negociação eficaz.
No entanto, é impossível ignorar os contextos geopolíticos que permeiam as discussões. A guerra na Ucrânia continua a ser um ponto de grande divergência. A Rússia, isolada em boa parte do cenário internacional devido ao conflito com a Ucrânia, mantém uma postura rígida em relação às sanções e aos blocos econômicos formados contra ela. Essa situação afeta diretamente a dinâmica das negociações, com diversas nações, especialmente da Europa e dos Estados Unidos, buscando enfraquecer a influência russa e defender sua posição de apoio à Ucrânia. O Brasil, por sua vez, tem buscado uma abordagem mais equilibrada, propondo a diplomacia como caminho para a resolução do conflito, mas sem conseguir dissociar-se das pressões internacionais que favorecem a condenação da Rússia.
Além disso, a instabilidade no Oriente Médio também ocupa um lugar de destaque nas discussões do G20. Com a escalada de tensões em diversas regiões, desde a Síria, Líbano até Israel e Gaza, o papel das potências globais no controle da situação é cada vez mais questionado. O Brasil, que tem se posicionado como defensor de um diálogo aberto, enfrenta a dificuldade de articular uma resposta unificada entre os países que, muitas vezes, têm interesses conflitantes. A guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio evidenciam a fragilidade da ordem internacional e a dificuldade de encontrar consensos diante de crises prolongadas.
Em termos de desenvolvimento sustentável, o Brasil tem pressionado por uma agenda que não seja sobrepujada por essas questões geopolíticas. A sustentabilidade, que deveria ser um tema central, se vê ameaçada pela polarização das discussões. As mudanças climáticas continuam a ser um dos maiores desafios do século XXI, mas os avanços são limitados, já que interesses econômicos, muitas vezes, entram em conflito com as necessárias ações para mitigar os impactos ambientais. O Brasil, com sua proposta de liderança nesse campo, busca alternativas para viabilizar o financiamento necessário, mas esbarra nas divisões internas e internacionais.
Além disso, a questão fiscal também emerge como um tema recorrente nas discussões. O Brasil tem defendido uma tributação mais justa sobre os mais ricos, com a intenção de combater a evasão fiscal global. A proposta visa criar um imposto global sobre grandes empresas e indivíduos de altos rendimentos, mas encontra resistência entre as potências que temem que isso possa prejudicar suas economias e empresas multinacionais. Esse impasse no campo fiscal reflete a dificuldade de conciliar o progresso econômico com a justiça social em um cenário internacional altamente competitivo.
A cúpula do G20 no Brasil de 2024 é um palco para as grandes potências discutirem questões que moldarão o futuro do planeta, mas também revela as divisões e dificuldades em alcançar consensos. A guerra na Ucrânia, as tensões no Oriente Médio, a busca por um desenvolvimento sustentável e as questões fiscais são apenas alguns dos pontos que continuam a polarizar as nações. Enquanto o Brasil tenta assumir uma posição de liderança e mediar esses conflitos, os desafios são imensos, e os resultados dessa cúpula podem ser limitados pela complexidade das negociações. O G20 é, sem dúvida, um reflexo das tensões globais que definem o cenário político e econômico atual.