Na última sexta-feira, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, inaugurou com entusiasmo a primeira parte do ambicioso projeto ferroviário, uma iniciativa estimada em US$ 20 bilhões que visa transformar a paisagem turística da península de Yucatán. Denominada “Trem Maia”, a extensa linha de 950 milhas (1.528,88 Km) está destinada a conectar resorts à beira-mar e sítios arqueológicos, prometendo uma experiência única aos turistas.
A seção inaugurada, um trecho de 473 quilômetros entre a cidade colonial à beira do Golfo de Campeche e o resort costeiro de Cancun, representa aproximadamente um terço do projeto total. Embora tenha sido aberta ao público, é evidente que a linha ainda está em construção, com terraplanagem inacabada e apenas uma pista de duas planejadas concluídas até o momento. As autoridades asseguram que o restante da linha estará operacional até o final de fevereiro.
A viagem de Campeche para Cancun, que levará aproximadamente 5 horas e meia, ocorrerá a uma média de 80 quilômetros por hora, embora as autoridades tenham afirmado que o trem será capaz de atingir velocidades de até 120 km/h. O serviço incluirá dois trens diários em cada direção, com paradas estratégicas em locais como Mérida, as ruínas maias em Chichen Itza e cerca de dez outras cidades.
Os bilhetes, inicialmente planejados para serem diferenciados entre mexicanos e turistas estrangeiros, foram listados para as primeiras corridas apenas em categorias de “primeira classe” e “classe turística”. Os preços começam em US$ 68 para um bilhete de primeira classe de Cancun para Mérida, comparáveis aos custos de ônibus de primeira classe na mesma rota, que custam cerca de US$ 58. Vale notar que a maioria dos bilhetes para as primeiras corridas já está esgotada, demonstrando um interesse inicial robusto.
Os primeiros vagões, reservados para autoridades, dignitários e imprensa, foram testemunhas do otimismo do presidente López Obrador, que descreveu o projeto como “recorde” e afirmou que eventualmente ligará Cancun a cidades litorâneas como Playa del Carmen e Tulum, além de alcançar as ruínas maias em Calakmul e Palenque.
Entretanto, o entusiasmo em torno do Trem Maia não é universal. Ambientalistas, mergulhadores de cavernas e arqueólogos levantaram objeções, destacando preocupações sobre a construção em áreas sensíveis da selva e sobre cavernas ricas em história e relíquias arqueológicas. A seção inaugurada, ao contrário dos dois terços restantes, aproveitou uma antiga linha de trem existente, minimizando a necessidade de novas construções em áreas ambientalmente sensíveis.
O presidente López Obrador, ciente das críticas e ansioso para concluir o projeto antes de seu término de mandato em setembro, acelerou o processo, dispensando formalidades de permissão, relatórios públicos e avaliações de impacto ambiental. Em novembro de 2021, um decreto amplo emitido por seu governo exigiu aprovação automática para projetos considerados “no interesse nacional” ou “envolvendo segurança nacional”. Esta medida foi aplicada ao Trem Maia, que, notavelmente, foi parcialmente construído pelo exército mexicano e será operado pelas forças armadas.
López Obrador, conhecido por seu fascínio por trens e seu histórico de atribuir projetos significativos às forças armadas, está determinado a revitalizar o transporte ferroviário de passageiros no México. Desde a reforma de 1995, que resultou na concessão a duas empresas ferroviárias privadas, o transporte ferroviário de passageiros no país praticamente desapareceu. No entanto, o presidente anunciou recentemente a imposição de requisitos para que empresas ferroviárias privadas ofereçam serviços de passageiros ou permitam que o governo agende trens em seus trilhos.
Enquanto o Trem Maia inaugura uma nova era de transporte ferroviário turístico na região, as preocupações ambientais persistem. Críticos argumentam que o projeto prejudica ecossistemas delicados, como cavernas e rios subterrâneos, sem estudos de viabilidade adequados. A coalizão SELVAME expressou preocupações específicas, declarando que o trem não atende às necessidades locais de transporte e é financeiramente inacessível para muitos residentes.
O futuro do Trem Maia permanece envolto em incertezas, com desafios ambientais, questões de viabilidade econômica e debates sobre impacto social. À medida que o projeto avança, será crucial monitorar como ele equilibra os benefícios turísticos com a preservação do patrimônio ambiental e cultural da região.
FONTE: Apnews
Silvano Saldanha: JN LIBERTTI
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