Desde o período imperial até a implantação do processo eletrônico, as eleições no Brasil foram marcadas por uma série de práticas fraudulentas que minavam a integridade do sistema eleitoral. Essas fraudes eram utilizadas como ferramenta de coação dos eleitores e como parte das estratégias de embate entre os grupos políticos. Apesar das diversas iniciativas, somente a partir de 1932, com a criação da Justiça Eleitoral, é que um esforço estruturado de combate às fraudes começou a ser implementado.
Abaixo, detalharemos cada uma das fraudes mais conhecidas antes da informatização do processo eleitoral brasileiro:
1. Fraudes durante a preparação das urnas de lona:
Urna grávida ou emprenhada: Nessa prática, cédulas preenchidas eram depositadas na urna de lona antes do início da votação, comprometendo a integridade do processo.
2. Fraudes no transporte das urnas de lona até a Seção Eleitoral:
Substituição de urna: As urnas oficiais eram substituídas por outras já repletas de cédulas preenchidas antes de chegarem aos locais de votação.
Roubo de urna: Urnas oficiais eram roubadas antes de chegar aos locais de votação, inviabilizando a votação em determinadas seções eleitorais, onde o candidato opositor tinha mais votos.
3. Fraudes na votação manual:
Voto formiguinha: O eleitor recebia a cédula do mesário, entrava na cabina de votação e, em vez de preenchê-la e depositá-la, guardava a cédula em branco e colocava um papel qualquer na urna de lona. O organizador da fraude, que estava fora da seção, recebia a cédula oficial, assinalava os candidatos desejados e a entregava para outro eleitor. Esse eleitor depositava a cédula já preenchida, pegava outra em branco e a entregava para o organizador, que repetia o processo fraudulento à exaustão.
Voto estoque: Cédulas do estoque de segurança das seções eleitorais eram preenchidas e inseridas nas urnas.
Eleitor votar no lugar de outro: O eleitor apresentava documento falso para se identificar na seção eleitoral e votar. Dessa forma, era possível que um mesmo eleitor votasse mais de uma vez em mais de uma seção eleitoral. Era possível, até mesmo, votar por pessoas já falecidas.
Eleitor fósforo: Eleitores mudavam seu visual e votavam em várias seções eleitorais.
4. Fraudes no transporte das urnas de lona até a Junta Apuradora:
Substituição de urna: Ao final da votação, as urnas com os votos coletados durante o dia eram substituídas por outras com votos indevidamente preenchidos.
Roubo de urna: Antes de chegar aos locais de votação, as urnas oficiais eram roubadas, inviabilizando a votação em determinadas seções eleitorais.
5. Fraudes na apuração manual dos resultados:
Número falso: Cédulas com o nome de um candidato eram preenchidas com o número de outro candidato, anulando os votos.
Votos brancos preenchidos: No momento da votação, os votos eram marcados com caneta azul. Na apuração, utilizava-se caneta vermelha para identificar as cédulas apuradas. Nesse momento, ao se deparar com votos em branco, o apurador os preenchia com caneta azul.
Fraude cantada: Os votos eram consolidados em mapas eleitorais após serem apurados (contados). A fraude ocorria de duas maneiras: a pessoa que informava os números da apuração para serem registrados no mapa eleitoral, chamado de escrutinador, “cantava os votos”, ou seja, falava em voz alta os números errados para serem registrados no mapa; a outra maneira era a pessoa responsável por escrever os votos no mapa registrar valores diferentes dos votos cantados.
Mapismo (Desvio de votos): Ao digitar o mapa de resultados, os votos eram retirados de um candidato e dado a outro, dentro da mesma legenda. Assim, por exemplo, se dois candidatos tinham 50 votos, era registrado 80 para um e 20 para outro, mantendo-se o total de 100 votos. Também era possível inverter a votação de dois candidatos, ao se manipular as linhas e colunas do mapa de resultados.
A transição para o processo eleitoral eletrônico representou uma resposta eficaz a essas práticas fraudulentas, fortalecendo a segurança e a confiança nas eleições brasileiras.
Por que Brasil optou pela urna eletrônico? A implementação da tecnologia representou uma resposta decisiva às fraudes recorrentes que assolavam diferentes etapas do processo eleitoral, desde os tempos do Império até a transição para o sistema eletrônico, proporcionando uma maior segurança e confiabilidade às eleições no Brasil. Embora enfrentando o desafio do conflito de interesses entre empresas de software, eleitores e políticos, o sistema eletrônico continua a ser considerado o mais seguro.
Qual é a sua opinião sobre a eficácia do sistema atual em comparação com o método tradicional de cédulas manuais?
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Reportagem: Silvano Saldanha/JN LIBERTTI
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