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Buenos Aires, 03 de junho de 2024 – A crise econômica na Argentina atingiu níveis alarmantes, revelando um cenário de pobreza extrema e fome crescente que assola o país. Um estudo recente da Universidade Católica Argentina (UCA) mostrou que a pobreza atingiu o maior nível em 20 anos em janeiro de 2024, com 57,4% da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Isso representa 27 milhões de pessoas em um país com 46 milhões de habitantes. A situação é ainda mais crítica quando se considera que a extrema pobreza aumentou de 14,2% em dezembro para 15% em janeiro deste ano.

Inflação e Políticas Econômicas

A inflação, embora desacelerada desde dezembro do ano passado, continua em patamares elevados. Em abril de 2024, a taxa anual acumulada atingiu cerca de 289%, de acordo com o índice oficial do Ministério da Economia Argentina. Este cenário econômico tem pressionado ainda mais a população, que luta para sobreviver em meio à escalada dos preços e à escassez de recursos.

Desde que assumiu o governo no final de 2023, o ultradireitista Javier Milei tem promovido uma política de austeridade, defendendo cortes nos investimentos e gastos do Estado como forma de estabilizar a economia. Embora essa estratégia seja elogiada por agentes do mercado financeiro, ela é duramente criticada por economistas heterodoxos, que acusam o governo de transferir o peso da crise para os mais pobres, dependentes de ajuda estatal.

Crise nos Restaurantes Populares

Foto: Agência Brasil/Reutrs/Matias Baglietto

A situação se agravou ainda mais com a crise nos comedores populares, restaurantes comunitários que fornecem alimentos gratuitos para os mais necessitados. Nos últimos dias, 32 comedores fecharam as portas devido à falta de repasses do governo. Essas instituições, que alimentavam mais de 8 mil pessoas em situação de pobreza em Buenos Aires, foram forçadas a interromper suas atividades, deixando milhares sem sua única fonte de refeição diária.

A associação civil Rede de Apoio Escolar e Educação Complementar (ERA), que atendia mais de 3 mil crianças e adolescentes, foi uma das afetadas, fechando os 13 comedores que mantinha. “É um desastre porque as crianças vão no contraturno aos nossos centros. Muitas vezes nas escolas não há comedores. Era a única comida de qualidade que tinham por dia”, lamentou Margarita Zubizarreta, representante da organização, em entrevista à rádio La Patriada.

Repercussões Políticas e Judiciais

A crise política se intensificou com as acusações de que o governo não está distribuindo adequadamente os alimentos para os comedores, deixando produtos próximos à data de vencimento. O secretário de Crianças e Adolescentes do Ministério do Capital Humano, Pablo De la Torre, foi demitido após ser apontado como responsável pela má gestão dos mantimentos.

Em uma tentativa de defesa, Javier Milei veio a público em entrevista à Rádio Mitre para apoiar a ministra da pasta, Sandra Pettovello, acusando a oposição de tentar desestabilizá-la. O ministério afirmou que abriu uma auditoria para investigar o caso e culpou funcionários pela falta de controle permanente de estoque e vencimento de mercadorias.

A organização Rede de Infância, Adolescência e Educação Popular (Interredes) alertou que 183 instituições estão em risco de fechar por falta de repasses, o que afetaria mais de 20 mil pessoas. Em comunicado, a Interredes declarou: “A fome é um crime. Exigimos o repasse imediato dos recursos e a entrega da mercadoria necessária para garantir o funcionamento de todos os comedores comunitários.”

Decisões Judiciais e Controvérsias

A situação levou o juiz federal Sebastián Casanello a ordenar a distribuição, em 72 horas, de cinco toneladas de alimentos, mas o governo recorreu da decisão, argumentando que os alimentos armazenados são destinados a emergências e acusando as organizações de serem “comedores fantasmas”. Juan Grabóis, dirigente social, rebateu essas acusações, afirmando que o governo usa dados desatualizados para justificar suas ações.

Os repasses aos comedores populares são parte do Plano Nacional Argentina Contra a Fome, financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A continuidade desse apoio é essencial para a sobrevivência de milhões de argentinos que enfrentam a fome e a miséria em um cenário econômico desolador.

(Fonte: Universidade Católica Argentina, Reuters, Ministério da Economia Argentina, Rádio Mitre, La Patriada, Agência Brasil)

Silvano Saldanha/JN LIBERTTI

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